12/01/2004

Uma Feijoada Tecnológica

Diz a lenda que há muito tempo atrás, quando alguém matava um porco, o pé, o rabo e as orelhas eram jogados fora porque não serviam para nada. Até que um belo dia, alguém teve a idéia de misturar aquelas sobras com feijão preto. Depois, a couve e a farofa também foram acrescentadas seguindo o mesmo método. Assim surgiu a feijoada, uma referência na culinária brasileira. Um prato popular que dá prazer a ricos e pobres. A novidade é que o povão pode pagar pela feijoada.
Receitas à parte, imaginem o mercado como um imenso caldeirão que não tem esquentado muito nos últimos tempos. As empresas lutam com muitas dificuldades para cuidar de seus negócios e se manterem vivas. Uma pesquisa recente do Sebrae-SP mostra que o dinheiro dos bancos é uma miragem para 99% das 4,6 milhões de empresas no Brasil. Sobrevivem sem crédito, enfrentam competição acirrada, alta carga tributária, legislação trabalhista complexa, altas taxas de juros etc. E agora, os empresários estão descobrindo que precisam investir “os tubos” em equipamentos, sistemas informatizados, Internet e Segurança da informação para administrar as empresas. De onde virá o dinheiro?
Um velho amigo meu, Dr. Philson Jones, diz que ser empresário no Brasil é viver num eterno “circo dos horrores”. Os fatos mostram que a maioria das empresas vive num verdadeiro “mato sem cachorro”: Precisam investir em tecnologia para informatizar seus negócios, mas não possuem recursos próprios e não tem acesso ao crédito. Acrescentando os altos preços dos softwares e computadores indexados ao Dólar e teremos a receita indigesta da pirataria generalizada.
Contudo, temos novidades. Ouve-se cada vez mais a expressão “Software Livre”. É um conceito polêmico que algumas potências da indústria de Software não gostam. Por outro lado é surpreendente ver empresas como IBM, Novell e Sun aderindo ao modelo de sistemas abertos. Em recente pesquisa com 238 empresas Brasileiras, o “Techlab”, divisão de pesquisa da consultoria “E-Consulting”, revelou que 78% delas já utilizam o sistema operacional Linux em servidores. A mesma pesquisa também mostra que dos U$ 19 bilhões de investimentos em Tecnologia da Informação previstos para 2004, nada menos que 38,5% (U$ 7.3 bilhões) estão associados à projetos para a plataforma Linux. Sem dúvida, o mercado sinaliza que o “Software Livre” é uma alternativa para as empresas.
Talvez o processo de invenção da feijoada nos ajude a criar um novo prato. Uma receita “econogastromática”, fruto da mistura de economia, gastronomia e informática. Primeiro esquentamos o caldeirão (mercado) e misturamos política de software livre, desenvolvedores de software, preço justo, mão-de-obra qualificada, concorrência e financiamento. Tempere com o talento povo Brasileiro e mexa bem até atingir o ponto. Quem sabe não criamos uma feijoada tecnológica para matar a fome de sucesso que as nossas empresas e o nosso país tanto precisam.

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