12/07/2004

Tecnologia: casar ou ficar?



Na arena do mercado, as soluções de tecnologia da informação são como pretendentes buscando casamento. Para conquistar o seu eleito elas fazem juras de amor eterno. Muita gente acaba cedendo diante de tanta sedução e se rende aos apelos dos resultados rápidos. Ébrios da certeza de ter encontrado a solução eterna para a solidão do mundo dos negócios e marcam a data do casamento, ou seria melhor dizer a implementação do sistema?

O casamento entre tecnologia da informação e os negócios sempre traz surpresas. É como entrar em um túnel escuro e longo. A cada quilômetro que avançamos descobrimos novidades que não foram apresentadas nos tempos do namoro. Algumas são positivas, mas, muitas vezes nos deparamos com situações que produzem turbulências, prejuízos e muita dor de cabeça. A frustração com projetos intermináveis e a ausência dos resultados prometidos, entretanto, contribuirão com a sua cota de sacrifícios, mas também nos darão a possibilidade de amadurecer. Promover o casamento entre tecnologia e negócios não é fácil.

Quando uma empresa casa com uma solução tecnológica, na verdade ela está preparando uma receita muito complicada. Misturar pessoas, processos e tecnologia é a fórmula perfeita para gerar conflitos. Aliás, administração de conflitos deveria ser uma disciplina integrada aos processos de implementação de sistemas.

Na medida que tempo passa e a empresa sofre o impacto das mudanças do mercado, tudo muda: interesses, processos, motivações e pessoas, por exemplo. Esse é um momento delicado porque talvez também seja hora de mudar a tecnologia usada pela empresa na gestão do seu negócio. Portanto, a separação será inevitável.

Enfim, penso que a prática do adultério tecnológico não é inteligente. A tecnologia é temporal e imperfeita. Quando sua aderência com o negócio está comprometida é melhor buscar novas soluções. O problema é que isso é difícil e o custo é alto. “O divórcio é mais caro que o casamento”, já me dizia o Dr. Virgolino, meu advogado.

Bem acho que é melhor ficar por aqui porque já estou até filosofando, atitude que no mundo dos computadores é simplesmente inaceitável. A moral da estória é que a gente nunca devia casar com a tecnologia: O melhor mesmo é “ficar” até que a próxima inovação nos separe!

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12/06/2004

Nem tudo o que reluz é ouro



Todo radicalismo é perigoso. O extremismo que reveste certas atitudes esconde, muitas vezes, a falta de conhecimento e experiência. E o pior, camufla a carência de objetivos positivos e claros que apenas um pensamento esclarecido pode oferecer.

Atualmente, temos contato com diversas formas de radicalismo. Os mais badalados são o radicalismo religioso e o político. O radicalismo econômico, embora grave, não é muito discutido porque não entendemos muito de economia. Nós, pobres mortais, só sabemos que “a coisa está feia” quando o dinheiro acaba antes do final do mês.

Contudo, há um radicalismo disfarçado que ronda as nossas empresas. Refiro-me à radicalização do consumo de tecnologia. Não é de hoje que a sociedade de consumo busca fincar os pés no mercado de tecnologia da informação. Atiçados pela febre das novidades, somos frequentemente induzidos a consumir produtos que não agregam valor aos negócios. Tudo em nome do consumismo tecnológico.

Os rótulos são cada vez mais criativos. Sempre existe alguém querendo nos vender um “produto mais moderno”, uma “inovação tecnológica” para “quebrar os paradigmas”. Inúmeros investimentos em sistemas de informação sofisticados e dispendiosos fracassam porque nem sempre a “tecnologia de ponta” traz os resultados que as empresas precisam. Consultores, técnicos e empresários não percebem, muitas vezes, que existem alternativas tecnológicas mais simples que podem ajudar as empresas, especialmente as pequenas e médias, a melhorar a gestão de seus negócios. Afinal, os sistemas de informações empresariais além de eficientes e modernos devem ser também compatíveis com a realidade econômica, social e cultural das empresas. Eles devem caber no bolso e na realidade das empresas.

É claro que novas tecnologias são importantes para o crescimento, porém não devemos nos deixar levar pelo consumismo. A prudência e o planejamento devem nortear o processo de seleção das tecnologias que merecem investimentos. As métricas de negócio, os critérios de decisão para investimentos, o conhecimento da realidade das empresas e do mercado são essenciais para decidir onde e como investir. Todo tecnologia inovadora deve passar pelo crivo do custo/ benefício antes de receber qualquer centavo.

A inovação tecnológica deve contribuir para a melhoria dos resultados das empresas. Não é apropriado permitir que o fascínio das novidades nos seduza. Afinal, como diz o ditado, “Nem tudo o que reluz é ouro”.


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