11/13/2005

200 anos de devastação

Não sou biólogo, ambientalista, ou cientista. Também não pertenço ao clube daqueles que são contra o progresso e hostilizam os empreendedores. Sou um cidadão e não aprovo radicalismos. Entretanto, ao fazer uma pesquisa sobre a História da região de Ribeirão Preto, percebi a existência de um processo de devastação ambiental que já dura cerca de duzentos anos.
Esse processo começou com as primeiras incursões dos bandeirantes que cruzavam o sertão em busca de ouro e também capturavam índios para vender como escravos. Essas incursões abriram os caminhos para o coração do Brasil e desencadearam o surgimento das primeiras células de ocupação do interior paulista. A natureza perdeu sua virgindade; a mata Atlântica sentiu os primeiros golpes de machado e o cerrado conheceu o fogo dos invasores.
Na segunda metade do século 19, a cultura do café entrou em declínio no Vale do Paraíba e foi nessa época que se descobriu o grande potencial cafeeiro das terras da região de Ribeirão Preto. O café chegou, ganhou força e reinou absoluto durante décadas. A multiplicação dos cafeeiros inaugurou uma nova etapa da devastação ambiental.
Depois de se arrastar por sucessivas crises, a monocultura do café sofreu um duro golpe com a crise de 1929. Os cafeicultores, em sua maioria falidos, passaram a buscar novas culturas para introduzir em suas terras. O algodão e a cana-de-açúcar entraram em cena e, após o fim da segunda grande guerra, com crescimento do consumo de açúcar e álcool, o plantio da cana fortaleceu-se até tomar o lugar do café. No final dos anos 70, com o lançamento do Pro-álcool, a cana conquistou a hegemonia econômica na região. Porém, junto com o progresso, vieram danos ambientais em escala muito maior do que aqueles provocados pelo café.
Paralelamente, o processo de urbanização acelerou-se em virtude do aumento da população e da instalação de novas indústrias. As cidades cresceram desordenadamente causando problemas de ocupação e utilização do solo, falta de saneamento e mais desequilíbrio ambiental.
A situação do aqüífero Guarani, o maior manancial de água doce subterrânea do mundo, é uma conseqüência desse processo de degradação ambiental na região de Ribeirão Preto. Suas águas são utilizadas no abastecimento de água de inúmeras cidades, na indústria e na irrigação. Porém, o desmatamento desenfreado comprometeu seriamente a cobertura vegetal que protegia os seus pontos de afloramento e recarga. A contaminação do solo causada pelo uso de agrotóxicos é outra grave ameaça à qualidade das águas do aqüífero.
A questão ambiental é bastante grave. Já sentimos os efeitos negativos da devastação do meio ambiente pois a natureza está reagindo às agressões que vem recebendo durante décadas. Ou aprendemos a equilibrar progresso econômico, respeito ao próximo e conservação ambiental, ou as próximas gerações pagarão um preço terrível pela nossa incompetência.

Publicado no Jornal A Cidade de Ribeirão Preto em 08/11/2005