5/13/2005

O Ajuste de contas

Naquela tarde houve um grande rebuliço na empresa. Todos ouviram os urros do Dr. Arsênico. Zeferino, o encarregado da informática, coitado, corria igual barata tonta de um lado para o outro.

- Zeferino! Berrou o Dr. Arsênico, esse relatório de vendas sai ou não sai?

- Bem, “Seu” Arsênico. Nós estamos com um “probleminha” no sistema. Respondeu o Zeferino.

Neste momento, num ímpeto de fúria, o Dr. Arsênico desferiu um violento soco na mesa. O escritório tremeu e todos emudeceram.

- Não é possííííííííííível!!! Outra vez!!! Esbravejou o homem, espumando pelos cantos da boca.

- Calma “seu” Arsênico! Sugeriu Adelaide, a secretária!

- Eu não agüento mais tanta incompetência!

Neste momento, enquanto o chefe, aos gritos, ameaçava a todos, Zeferino relembrava suas decepções naquela empresa. Ele não suportava mais tanta arrogância e estupidez. Seu rosto avermelhava-se mais ao ouvir os gritos do patrão. Ele remoia a dor da ingratidão e da raiva que o consumiam há algum tempo. Quem não agüentava mais era ele. Ganhava pouco; mal tinha tempo para almoçar; era o primeiro a chegar e o último a sair; não recebia sequer um muito obrigado. “Vestia a camisa da empresa” e “não deixava a peteca cair”. Nada funcionava direito; os computadores não prestavam e o software era pirata. O “homem” dizia que não tinha dinheiro para investir em informática, porém desfilava de “Audi” pra cima e pra baixo.

- Dr. Arsênico! Disse o Zeferino nervosamente. O sr. não receberá o relatório. O sistema “deu pau”; o programador mandou um e-mail informando que só resolverá o problema quando você pagar o que lhe deve. Portanto, não encha o meu saco. Quero que você e esta droga de empresa se danem!!! Desabafou o funcionário.

- Zeferino. Seu atrevido!!! Gritou o diretor.

- O que significa isso? Você enlouqueceu? Eu posso te demitir por isso?

Zeferino olhou-o fixamente por alguns instantes; não disse uma só palavra e saiu.
Naquela hora o corredor fervilhava. Alguns estavam surpresos com a audácia do Zeferino. Outros diziam que ele havia pirado finalmente.

De repente, houve um corre-corre danado. O Zeferino surgiu com um machado nas mãos, entrou na sala do chefe e, num acesso de fúria, destruiu o “notebook” do patrão com um golpe certeiro. O diretor, apavorado, recuou até a parede. Provavelmente pensou que o Zeferino ia acabar com ele.

- Louco estava eu quando acreditei na tua conversa fiada e aceitei trabalhar aqui! Gritou o Zeferino.

Logo em seguida, furiosamente, destruiu a mesa a machadadas. O patrão assistiu a tudo com os olhos esbugalhados. Nada fez. Nada disse.

Feito isso, Zeferino olhou ao seu redor; encarou o chefe com um leve sorriso de satisfação e saiu em direção à sua sala. O corredor estava vazio. Ao chegar em sua sala, ele pegou a carteira e a marmita, ainda intacta, e sumiu. Ninguém ousou dizer uma só palavra e muito menos impedi-lo de ir embora.

L@n" Ribeiro (Orlando Ribeiro) é Facilitador de negócios em TI, articulista e palestrante.
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