7/28/2005

Virando a mesa

Val estava tensa. Afinal, após a morte do seu marido, ela foi forçada a transformar-se em empresária do dia para a noite. Ele confiou demais no Costa, o diretor financeiro da empresa; por isso deixou que ele cuidasse das finanças da empresa. Ele também não achava importante investir em informática para controlar a gestão dos negócios da empresa.
Val nunca gostou do Costa. Para ela, um sujeito adulador e incapaz de olhar as pessoas diretamente nos olhos não poderia prestar. Poucos dias antes de morrer vitimado por um enfarte, seu marido falou-lhe que havia descoberto desfalques na empresa. A situação era grave. Ele disse-lhe que o Costa estava por trás de tudo, mas nada podia ser provado.
Apesar de furiosa e arrasada com a morte do marido, Val reuniu forças e descobriu as falcatruas e negociatas do Costa. Ele desviou muito dinheiro da empresa. O bandido contratou “hackers” para sabotar os sistemas de informática, tramou o superfaturamento de compras, corrompeu pessoas e destruiu documentos que poderiam incriminá-lo. Val passou noites em claro. Chorou muito. Voltou a fumar. Não descansaria enquanto não salvasse a empresa. O Costa ia pagar caro por tudo que fez. Faria isso pela memória do seu marido, por seus filhos.
- Val! Como vamos salvar a empresa? Perguntava Carlos, seu cunhado.
- Não se preocupe. Já estou cuidando disso. Já cancelou os contratos de informática?
- Sim!
- E o novo sistema de gestão? Precisamos de uma solução segura e confiável!
- Já estou procurando! Respondeu Carlos.
- Dona Val! O senhor Miro chegou! Avisou a secretária pelo interfone.
- Dona Arlete, diga ao senhor Costa para vir à minha sala. Ah, mande o senhor Miro entrar em dez minutos!
- Quem é esse Miro, Val? Perguntou Carlos.
- Você logo saberá!
- Com licença? Perguntou Costa abrindo a porta e esgueirando-se para dentro da sala de Val.
- Sente-se Costa!
- Tudo bem Val? Perguntou ele ironicamente.
- Costa. Aqui está sua carta de demissão e o valor que você deverá transferir para a conta da empresa. Agora!!! Disse Val secamente.
- Carta de demissão? Transferência? Você deve estar delirando!
- Não estou delirando. Isso é sério!
O Costa já estava se levantando para ir embora quando entrou um homem de seus 50 anos. Era o Miro. Eles se entreolharam e o Costa desabou na cadeira como se estivesse vendo um fantasma.
- Está nervoso Costa? Perguntou Val retribuindo a ironia.
- Bem “seu” Miro, pode mostrar os papéis para o seu velho “amigo”!
- Costa! Há quanto tempo hem?? Você ainda se lembra dos nossos antigos negócios??
- Pensei que você estivesse morto! Disse Costa com a voz trêmula.
- Como você pode ver, eu acabo de voltar do mundo dos mortos!
- Vamos lá Costa. Já viu os documentos? Assine logo a sua demissão e entre no site do banco para transferir o dinheiro que você nos roubou. Faça isso e você poderá reaver os documentos. O Miro ficará quieto!
O Costa estava pálido e desconcertado. Aqueles documentos e fotografias destruiriam completamente a sua reputação e o colocariam na prisão. Então, ele assinou a carta de demissão e fez a transferência do dinheiro. Em seguida, pegou o pacote com os documentos e saiu. Val lembrou-se de seu marido, suspirou e libertou algumas lágrimas. “Descanse em paz meu amor!”